OS ESCRIBAS

Letras que se confundem em histórias de instantes que passam a correr pelas vidas passadas e futuras, reais e imaginárias, ditas e escritas pelas mãos que imprimem em cada tecla, a vontade, o desejo, a emoção e o interminável percurso labiríntico de quem escreve por prazer.

30 novembro 2007


29 novembro 2007

A vida não se pode isentar de obrigações.Ela mesma as necessita e as gera para evitar a sua desagregação e obter a honorosa classificção de serviço.Do mesmo modo,também para o normal das pessoas,o trabalho que propociona a alegria do que se gosa e satisfaz.Fugir a obrigações e a trabalhos é falsear a vida e envenenar o prazer do que legitimamente se gosa. Aqui o segredo da história que perdura e deixa rasto.A opção pela historieta e pela banalidade,pelos caminhos sujos e pelos meios falsificados,é de vida curta,porque de consciência perturbada. D.A.M

O espelho dos Príncipes

Ainda Mário Cezarine


Gostava de ter daquelas mortes boas, em que uma passoa se deita para dormir e nunca mais acorda.


( do seu livro "Autobiografia")

28 novembro 2007

Cesariny


Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco


Mário Cesariny

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25 novembro 2007

Na procura da Paz


Cria para ti um local de refúgio.
Faz de um canto da tua casa um paraiso, um santuário.
Quando sentires que o teu temperamento começa a ferver,
e a tua voz começa a subir de tom,
isola-te lá por alguns instantes.
Talvez um livro, um postal ou um objecto,
murmurem palavras de paz ao teu coração!


( li isto num livro, e, curioso é assim que trato de mim)

22 novembro 2007

aula criativa


...e decidimos que vamos criar uma ficção.

(a ideia resultou dos bolinhos da vida e da inspiração de um dos nossos)

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A LETRA i

I
Coitadinho do i : é um risquinho.
E no cimo está uma pintinha,
Apenas a fingir de cabecinha,
Mas tem-na separada… Coitadinho!

Criar o i acéfalo… convinha,
A quem?... Digam, pois eu não adivinho…
O seu inventor não lhe deu carinho;
A crueldade nele se detinha…

Vejamos como o i, decapitado,
Consegue o pensamento definir
E revelar-se nada atordoado…

É bem claro no ir, no vir, no rir!
E também não se mostra irritado,
Se jamais de irritar, pode fugir…

II
Quantos humanos, tendo o corpo unido,
À cabeça, não têm percepção,
Não conseguem achar definição
Para o que já está bem esclarecido…

Andam às voltas, numa agitação!...
Fingindo que procuram o sentido,
Dum tema… que desejam escondido,
Para não lhes trazer complicação…

Eis como funciona o ser humano,
Quando quer libertar-se de problemas…
Mesmo acéfalo, vede o i ufano

Por jamais fraquejar nos seus dilemas…
Só os humanos causam grande dano
Inventando em defesa, vis esquemas…


analosver

21 novembro 2007

A velhice da minha cadela Cuca

Entrou na minha casa, cachorrinha ainda, preta, luzidia e atarantada.
Vinha para substituir outra congénere, preta como ela, já cega, ouvindo mal, que a custo subia as escadas do jardim, mas que fora companheira competente de meu marido e meu filho, caçadores inveterados, e delícia dos meus netos com os quais comia "quase" do mesmo prato.
Quando chegou o dia, em que dolorosamente percebemos, que não era justo, nem digno para ela, que a mantinhamos por egoismo ou falta de coragem, levamo-la com respeito e dor, ( dois sentimentos que se dão bem ) ao veterinário para que a injecção letal lhe fosse dada.
Fechou os olhos serenamente como quem adormecia até a um "amanhã" e meu marido, passando a mão pela sua cabeça negra, numa voz que julgou varonil, mas que foi atraiçoada pelo tremor, disse-lhe:
- Foste uma grande companheira!

Hoje essa cadelinha que ajudou a suportar uma saudade, já está quase no limite do seu termo existencial.
Resumindo: nesta casa temos os três a mesma idade.
Mas que bem nos sentimos, deante do fogão aceso da nossa sala de estar, gozando em harmonia e cumplicidade um dia ... outro dia ... até ao Dia ...

19 novembro 2007

Swing in the rain


A chuva apareceu.
Necessária,
conveniente,
oportuna.


Que tenha vindo,
como uma dádiva
ao encontro
da terra que a reclamava.


Que caia na medida exacta da necessidade.


E em alegre acolhimento,
saiamos à rua,
"cantando à chuva".







Matisse


Sou poeira
De uma estrela
Poeira de uma paixão
Passou o vento, abracei-te
Protegi-te
Amarrei-te
Bem dentro do coração


Eu gosto da água
Transparente, ou turva
Quando serena,
Assenta a poeira
Um pouco como a vida.
Se não é florida
O sorriso neutraliza-a
Fica a calma à nossa beira.









15 novembro 2007

Um prudente conselho


Temos que trabalhar 8 horas
e
dormir 8 horas.
Mas não as mesmas!

AULAS CRIATIVAS


Aqui estamos nós, um pouco desfalcados...mas sempre activos. De quem falámos hoje? De um colega que conheceu Maurice Blanchot, falámos também de inspirações poéticas e versos rimados nos sonetos de analosver. Ainda se bebeu um sumo natural de maçã e as aves do Paraíso fizeram-nos companhia...

Amantes da Arte

I
Os novos candidatos à pintura,
Vêm trazer à aula animação;
Merecem, pois, a nossa saudação,
Com votos de que sintam a ventura

De terem descoberto a vocação
De Rafael, Rembrandt… A arte pura.
Pode assustar, entrar nesta aventura!...
Mas depende, somente, da paixão

Com que traçamos, livres, cada linha:
Não importa se é preto ou se tem cor,
Transformando-as num prado, ou em marinha;

E um borrão de sombra, dá vigor,
Até às pedras! Logo se adivinha
A emoção que agitara o seu pintor!

II
Alguém que sente a Arte e se desvela
Num poder criativo armazenado,
Esquecido, mesmo desprezado
Dentro da mente, só a pesar nela!...

Sem a aventura, dum plano traçado,
Na experiência a óleo ou aguarela.
Quem se aventura, vence, e revela
Força para subir, sem ser travado...

E cada um avança mais e mais,
Ao fazer, em si mesmo, descobertas
De que na alma acordam vendavais,

Que saltam para as telas tão desertas!...
Ai! Retidos na alma, são brutais!...
Assim, ficam as almas mais libertas…

III
Caem borrões de sombra, em profusão,
Na alma, quando a temos desprovida
Dos interesses válidos, na vida…
Como se a sombra desse animação

A uma alma já empedernida…
Mas dá. Dá-nos tão forte agitação
Que nos força a encontrar a solução
Para a alma não ser jamais vencida.

Descobrimos, assim, ─ grande ventura! ─
Que esta Universidade é milagrosa,
Fornecendo aos alunos a estrutura

Que lhes transforma a dor, mais dolorosa,
Numa leve lembrança de amargura,
Na convivência amiga, preciosa!...

analosver

Entre o azul e o verde

Deixei o azul do mar
E embrenhei-me no verde do campo.
Fiz bem? Fiz mal?
No mar, o Sol estendia os seus braços,
criando uma estrada, chamando-me para si.
No campo o “sol” enrola os seus braços em volta de mim.
Fiz mal? Fiz bem?
Acho que sim.

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12 novembro 2007

o amor por entre o verde


escolhi ser um lápis verde
para escrever a minha vida.
melhor...
olhar para ela e vê-la verde
olhei para esta fotografia

e lembrei-me
foi assim

REVE


REVE

Como se das mãos se fixasse
imóvel

uma impressão algo vegetal
de carvão frágil




Então, um resgate de azul
eclode sobre o fundo
da caverna
onde


existimos

15.10

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11 novembro 2007

A Essência das Atitudes


Lembro uma página de um livro intitulado "Deus e os filhos", que nos meus primeiros anos de Mãe, faziam monte com outros sobre psicologia e pedagogia infantil.


Um Pai assistia à missa com o seu filho garoto ainda. Havia como se poderá ver, uma relação intima, terna e profunda entre os dois. Lado a lado seguiam todo o ritual. Chegado o momento da Comunhão, como de costume o Pai levanta-se para se dirigir ao altar e o filho cabisbaixo manteve-se de joelhos. Intrigado o Pai pergunta-lhe baixinho:
- Não vens!?
- Não posso Pai.
- Porquê!?
- Lembras-te daquela caneta Parker que me deste nos anos?
- Sim.Que tem?
- Desculpa Pai, mas vendia por 5 euros.
Com doce sorriso o Pai pousou-lhe a mão no ombro e disse:
- Ó meu filho, isso não foi um pecado. Foi um mau negócio. Anda daí..

( Sem nenhum comentário )

10 novembro 2007

Para "Ninguém"

a Ninguém se queixou de que está só!...
sozinha aqui no blog. Mas, se é Ninguém
não é nada. E assim, corpo não tem.
Ninguém que se diverte a pedir dó...

Ninguém
que tem de ser mesmo alguém
a usar um blog, que é de muita avó
e muito avô; mas vão ao pão-de-ló,
que há no bar, e sabe sempre bem.

esta Ninguém... alguém tem de ser;
em fantasmas é que eu não acredito.
Ninguém será alguém que eu hei-de ver.

Ninguém , só!... se tem medo de um grito,
Alguém de si se vai compadecer
E manda-lhe socorro por escrito.


analosver

08 novembro 2007

A ESPIRAL DO MOVIMENTO

Escultura grega, sec.I a.Cristo...

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07 novembro 2007


Todo o equilíbrio.
Toda a tranquilidade.
Toda a alegria.
Toda a segurança
e toda a minha força.
Vêm deste simples gesto.
"A tua mão na minha"

05 novembro 2007


com sono me deito
e o sonho me invade
e mesmo sem sono
o sonho domina
o sonho é benéfico, saudável
sonhar é não limitar-se a limites
preciso de ambos para sobreviver.

03 novembro 2007

O amigo fiel quando o mundo "lhes" parece tão mau e os magoa.
E no amanhã,
- quando a soma dos anos que para eles hoje é conta dificil -
será também no aconchego de um abraço assim, que encontrarão o consolo sem terem de cobrar nada!

02 novembro 2007



Pensão familiar

Jardim da pensãozinha burguesa

Gatos espapaçados ao sol.

A tiririca sitia os canteiros chatos.

O sol acaba de crestar os gomilhos que murcharam.

Os girassóis

amarelo!

resistem

E as dálias, rechonchudas, plebeias, dominicais.

Um gatinho faz pipi.

com gestos de garçon de restaurant- Palace

encobre cuidadosamente a mijadinha.

Sai vibrando com elegância a patinha direita:

- É a única criatura fina na pensãozinha burguesa

Petrópolis, 1925 Manuel Bandeira