OS ESCRIBAS

Letras que se confundem em histórias de instantes que passam a correr pelas vidas passadas e futuras, reais e imaginárias, ditas e escritas pelas mãos que imprimem em cada tecla, a vontade, o desejo, a emoção e o interminável percurso labiríntico de quem escreve por prazer.

21 novembro 2007

A velhice da minha cadela Cuca

Entrou na minha casa, cachorrinha ainda, preta, luzidia e atarantada.
Vinha para substituir outra congénere, preta como ela, já cega, ouvindo mal, que a custo subia as escadas do jardim, mas que fora companheira competente de meu marido e meu filho, caçadores inveterados, e delícia dos meus netos com os quais comia "quase" do mesmo prato.
Quando chegou o dia, em que dolorosamente percebemos, que não era justo, nem digno para ela, que a mantinhamos por egoismo ou falta de coragem, levamo-la com respeito e dor, ( dois sentimentos que se dão bem ) ao veterinário para que a injecção letal lhe fosse dada.
Fechou os olhos serenamente como quem adormecia até a um "amanhã" e meu marido, passando a mão pela sua cabeça negra, numa voz que julgou varonil, mas que foi atraiçoada pelo tremor, disse-lhe:
- Foste uma grande companheira!

Hoje essa cadelinha que ajudou a suportar uma saudade, já está quase no limite do seu termo existencial.
Resumindo: nesta casa temos os três a mesma idade.
Mas que bem nos sentimos, deante do fogão aceso da nossa sala de estar, gozando em harmonia e cumplicidade um dia ... outro dia ... até ao Dia ...

7 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Este texto merece um comentário especial, e nunca um breve sublinhado.
Cresci em centimetros, portanto criança, com um bouquet na mão, onde existiam três coisas importantes para mim. As pessoas, os animais, e as plantas. Ainda hoje não perdi tempo em saber, o que será mais importante.
A tua história, lembrou-me o tempo
em que a minha Mãe me contava histórias, e ficava aflita por ver
que as lágrimas desciam em silêncio
pela carita abaixo, eu criança, quando o coelhinho preto se perdia na floresta.Parabéns. Bjs

10:39  
Anonymous Anónimo disse...

C�u,
Que lindo!...
Acredita que me apetecia ser a tua cadela.(salvo seja)
Filha de peixe sabe nadar.J� pensate como o teu Pai se entir� ao ver sua pequenina seguir-lhe os passos? Como �le deve sorrir!...

Gabriela

19:01  
Blogger A do Costume disse...

os cães têm até essa generosidade, vão-nos ensinando a obediência e a fidelidade, até mesmo à lei da morte.que belo texto, a(s) sua(s) cadelinha(s) merecem-no, certamente.

21:58  
Blogger ninguém disse...

As minhas cadelas só não deixam cartão a quem escreveu comentários,
porque não sabem escrever...

18:26  
Anonymous Anónimo disse...

Gostei,mas...

Há cães com vida de cão
Há cães que amamos como gente!
...........................
Quanto homem com vida de cão
Anseia pelas ternuras da Cuca
E devolveria igual afeição!

Quantos mal vivem!
Quanto indigente!
-Nem tem um bom coração
Que lhes dê um pedaço de pão
E no fim um tiro na nuca!-
Cínico!

21:39  
Blogger ninguém disse...

Gostava de saber quem é este que assina "CINICO"!?
Por favor apresente-se...
Dou-me bem com toda a gente.
Ninguém.

22:40  
Anonymous Anónimo disse...

Com lágrimas nos olhos só posso dizer: Tão lindo!
E lembrei-me do meu gato Pussy... e não só!

14:46  

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