OS ESCRIBAS

Letras que se confundem em histórias de instantes que passam a correr pelas vidas passadas e futuras, reais e imaginárias, ditas e escritas pelas mãos que imprimem em cada tecla, a vontade, o desejo, a emoção e o interminável percurso labiríntico de quem escreve por prazer.

13 maio 2012

NÓS E A EUROPA NA ERA 2000

I
Que fizeram de ti, meu Portugal ?
Tu, um País pequenino, em espaço,
Que a Europa nunca teve no regaço,
Pois lhe fugias, ágil, jovial,

Em busca de outro mundo, além esparso,
Foste, agora, cair no seu ardil !...
Velhinho, que jamais fora senil,
Atraiçoa-te a Europa, num abraço

De quem mostra por ti grande afeição,
Prometendo ternuras maternais:
Os apátridas, logo em ambição,

Vendem-te por dinheiro e coisas mais,
Tecendo em cada alma só ilusão,
Até nos dar torturas infernais.

II
Desde o berço mostravas alma forte,
Enfrentando inimigos sem temor.
A Europa sublimava o teu valor;
Todo o mundo invejava a tua sorte.

Sempre te perseguiu algum traidor
A quem não importava a tua morte...
E logo despedaça, num maus porte,
Teus membros: Portugal conquistador!

Eras, neste cantinho, independente:
Descobrir Mundos foi tua ambição,
Levando a Fé a todo o Continente !

Os traidores, por vil maquinação,
Vendem-te a uma Europa irreverente
Que te escraviza, até roubar-te o pão!...


Porto, 27 - 3 - 2012
Ana Lopes Vieira

A EUROPA DE HOJE


I
Ai, Europa!... Ai, Europa sem cabeça.
A sonhar com grandeza e um tesouro,
Para te cobrir, toda, apenas de ouro !
Sem procurar Valor que te enobreça.

Aceitas ser raptada por um touro,
Como aceitas o mais que te envaideça;
E que o mistério não se desvaneça,
Ainda que te dê um mau agouro...

Mesmo que negues, oh! foi um sinal
De futuras, cruéis fatalidades   
De muito sonho teu, com mau final...

Já chegaste a atingir prosperidades
E a subir a bem alto pedestal,
Sabendo disfarçar leviandades...

II
Tão leviana foste, Europa grandiosa
Em tempos já remotos, esquecidos...
Os teus procedimentos desabridos,
De mulher imponente e orgulhosa,

Faz com que os teus amores mais queridos,
Já não vejam em ti, a virtuosa
Europa: santa, alegre e poderosa:
Só vêem desvarios não contidos,

Que te abrem caminho para a tumba...
Foste invejada quando eras viril.
Hoje, cada vaidade mais te afunda,

Gastando, sem contar, cada centil;
Na tua actividade agora imunda,
Só revelas ao mundo estar senil...

Porto, 3 -1 - 2012
Ana Lopes Vieira
















04 julho 2011

Nós e a Tríka -- U.D.S.P.

Até na crise, nós nos reunimos
Num convívio sem termos jantarada...
Mesmo que a ementa seja racionada,
Destes convívios nunca desistimos.

Não queremos a nossa alma abalada
Por sentenças da crise que sentimos
A abalar Portugal. E decidimos
Mostrar que a nossa alma é arrojada

Persistindo num doce conviver.
E venha a Tróika impor-nos restrição
Em tudo o que nós temos de comer,

Cá estaremos sempre em reunião,
Alegres cada um a espairecer,
Limitando o banquete a água e pão...

Porto, Junho - 1011
Ana Lopes Vieira

17 maio 2011

AS FLORES DOS POETAS

I
Lamentou-se uma Dália, pesarosa,
Por não serem as dálias uma flor
Que sirva de motivo inspirador,
Aos poetas, como é a bela rosa

Presumida, a exibir-se em esplendor;
Ou o lírio do campo e a mimosa;
A triste violeta bem cheirosa,
A chamar a atenção do sonhador,

Que passa distraído sem a olhar,
Atento à japoneira mais garrida,
Com camélias vermelhas a acenar:

E ele sente a beleza definida
Naquele verde-rubro, a flutuar
Como a nossa bandeira ao céu erguida.

II
As dálias não serão inspiradoras
De poetas... Talvez os desconsole,
Não terem a magia do girassol,
Num bailar gracioso, durante horas,

Desde o primeiro ao último arrebol.
Não são para os poetas sedutoras...
Mas são de belos dotes portadoras,
Pois sabem ao orgulho impor controle.

Maiores do que as rosas, têm cores
Diversas, no jardim a fulgurar;
Humildes, não cativam tovadores

Que não sabem as dálias amar.
Mas quem lhes reconhece altos valores
Vai levá-las a Deus, sobre o altar.

Porto, 3-5-2011
Ana Lopes Vieira

21 março 2011

O REI

I
Sócrates não desiste de honrarias!...
Parece até julgar-se um imortal,
Que nem no Fim do Mundo tem final...
Cada vez mais se apega às mordomias!...

Pode agravar-se o seu estado mental
E cobiçar mais altas regalias:
Ser Rei um dia!... Mas surgem-lhe arrelias:
Não pode usar coroa... a que é Real:

Foi esta oferecida à Mãe de Deus,
Por um dos nossos réis em gratidão
Por mercês alcançadas lá dos Céus.

Jamais os nossos réis ostentarão
A Coroa Real. E só os ateus
Podem cair, enfim, na tentação,

II
De usurparem à Virgem a coroa...
Se o ataca a ânsia de realeza,
Usurpa-Lhe a Coroa com destreza,
Pois, na sua vaidade, ele age à-toa...

Quando fala não usa de franqueza;
A sua voz a falso nos ressoa:
Promessas que não trazem coisa boa...
Só de azares nos dão grande certeza.

Se lhe cresce a arrogância dia a dia;
Se cobiça mais alto pedestal,
Usurpa a Coroa à Virgem Maria

E, assim, atinge o seu grande ideal:
Forma, ele, uma nova Dinastia,
Coroando-se: Rei de Portugal !...


Porto, 13 - 3 - 2011
Ana Lopes Vieira

20 março 2011

Iremos pagar IVA por cada Aniversário, na CRISE ?!...

I
Um NATAL só de CRISE e indigência!...
Há grande discussão no Parlamento!
Fazem até um grande pé-de-vento
Contra a tirana: DONA INCOMPETÊNCIA!...

Nem a TV se cala um só momento:
Fala um... fala outro... há divergência...
Entram mesmo, alguns, em turbulência,
Agoirando um futuro de tormento!...

E em cada aniversário, haverá IVA ?...
Ai de nós... já há tantos anos vivos,
Sempre em actividade construtiva.

O Estado vê nos IVAs atractivos!...
Para o mais idoso, é CRISE aflitiva:
Se nos fazem pagar... retroactivos!...

II
IVA em cada NATAL?... É coisa atroz!...
Vem dar-nos um desfalque nas poupanças,
E podemos perder as esperanças
De voltar aos convívios... só de avós.

Lá se vão jantaradas e festanças...
Quem é legislador SÓ VÊ OS PRÓS,
A favor deles... Não zelam por nós...
Para nós, tudo são inseguranças...

Vem Bruxelas ditar-nos duras leis?...
Nas nossas algibeiras, já furadas,
Não irá encontrar... nem cinco réis...

Nações credoras ... não serão lesadas:
Levam dos nossos dedos... sem anéis...
As unhas, ai, que já nem são pintadas...


Porto, Dezembro, 2010
Ana Lopes Vieira

18 março 2011

Odisseia na Troca de Casacos

I
Um bom almoço alegre de Natal,
Aonde cada alma contraria
Revezes que lhe dão melancolia,
Enfrentando-os, a sério, em festival...

Não importa se o frio é uma arrelia!...
Também nos defendemos desse mal,
Com roupas de fazenda ou de animal...
De fazenda é o casaco que eu vestia,

E deixei-o a guardar no vestiário.
Quando, na despedida o fui buscar,
Não vi o meu casaco no armário!

A sua fuga deu bem que cismar!...
Quantos a lamentar o meu fadário:
"Sem casaco, vai mesmo enregelar!..."

II
Logo alguns me emprestavam roupa quente,
Mas eu não tinha frio e recusava;
A que eu tinha vestida me chegava.
"SOBRAVA UM CASACO!..." De repente,

A semelhança quase me enganava...
No feitio e no tom, vi, claramente,
Que houve ali distracção muito evidente!...
Mas de homem: o casaco que sobrava!

Quem seria, afinal, o distraído
Que leva o meu casaco em vez do seu?
Se o vestiu, ter-lhe-à, mesmo, servido?...

Alguém, lá no hotel, esclareceu:
"Pode levá-lo sem o ter vestido...
"Da troca ainda não se apercebeu..."

III
Era a doutora Dália e o seu marido,
E colegas, ainda ali presentes,
A porem-me nas castas roupas quentes.
Mas o frio, por mim, não é temido.

Todos com gentilezas persistentes:
"Lá fora está um frio desabrido!...
"Não vá assim, com tão fresco vestido,
"Para um frio que faz bater os dentes!..."

Eu, que não temo o frio, recusava,
Agradecendo cada gentileza...
Insistiam: que o frio me constipava...

O doutor Mário, em gesto de nobreza,
Dá-me transporte, que eu mal recusava...
Aceitei, na apatia da incerteza...

IV
Incerteza de achar meu casaquinho...
Pois era mesmo estranha a confusão!...
Voltaria o casaco à minha mão?...
Pensei em consultar um adivinho...

Mas, palpitou-me forte o coração,
Ao lembrar o bondoso São Martinho,
Que deu o seu casaco ao pobrezinho...
Mas, para santa, falta-me feição...

Vem-me logo outra ideia irracional:
Se dentro do casaco estivesse eu,
Assim, como um embrulho de Natal?

Quem o levou, de raiva ensandeceu:
Joga fora o embrulho, em ar brutal,
Vendo que tal embrulho não é o seu!...

V
Depois o telefone entra em acção:
Para uns... para outros... a indagar...
Nem sequer o hotel sabe informar
Quem deu ao meu casaco sumição!...

O tempo vai passando devagar...
E eu em casa, esperando a aparição
Do meu casaco, sem agitação:
Dizendo que ele havia de voltar.

Pensei no sobretudo que sobrou:
Para mim era largo: pano a mais...
Caberia no meu, quem o levou?...

Teima vesti-lo... sem caber!... Dá ais!:
"Como é que o sobretudo assim mingou?!...
"No almoço engordei?!... Comi demais?!!!...."

VI
Decide racionar bem as comidas!...
E contra a comezaina ele reponta:
"Um jejum rigoroso não me afronta
"E dá-me as elegâncias já perdidas."

O telefone vai de ponta, a ponta,
Sempre a fazer perguntas comedidas:
A saber quem tem roupas indevidas...
O distraído, assim, logo dá conta

Que a culpa... não está no que comeu...
Depois o telefone me informou:
"O seu casaco já apareceu!..."

O doutor Mário, enfim, desencantou
O casaco e à destroca procedeu.
Em paz, esta odisseia terminou.

Porto, Dezembro, 2010
Ana Lopes Vieira

14 junho 2010


As sandálias eram novas a estrear.
Azul forte.
Em linho.
Uma fivela no calcanhar.
Reparei, que enquanto estávamos sentadas no banco de madeira,
várias vezes a vi estender as pernas
e, fixá-las, virando os pés meio de lado, devagarinho!
Onde estávamos não convinha falar,
tinhamos que estar com atenção ao que se estava a passar.
Terminada a cerinónia,
como sempre, fiquei a conversar com a minha amiga Joana.
E perguntei-lhe:-Lembraste, Joana, há vários anos desenhaste a mãe desta neta!
Acto contínuo, a minha amiga, tirou da carteira, um maço de lenços de papel,
pegou numa esferográfica
e aproveitando o gesto,
de quem se tinha baixado,
pousado o joelho em terra, para apertar mais a fivela, (julgo eu!)
fez uns rabiscos, para ver se não esquecia a expressão...
Ao fim do dia mandou-me o desenho!
e ... eu não consegui deixar de escrever isto!
Uma desenha como quem respira naturalmente.
A outra escreve como quem não consegue estar calada!

12 junho 2010

Adolescente

(Joana Motta)
Como eu gostaria
que olhasses para mim...
Não viste sequer o meu chapéu novo!
Mas sabes, comprei-o a pensar em ti!?
Sonhei que podíamos ir por aí,
atravessar os campos até ao riacho,
apanhar flores,
seguir as borboletas que voam contentes,
ouvir-te contar aquelas histórias,
em que és sempre herói.
Não sei se acredito em tudo que ouço,
mas teus gestos amplos,
tua voz feliz,
teus olhos negros cor de azeviche,
o teu ombro que roça no meu,
enche-me de sol!
Tolo...que não sabes o que eu gosto de ti...

03 junho 2010


(Joana Motta)

Quase tempo de praia.
Voltei costas ao sol,
pois meus olhos ainda húmidos de tantos dias de chuva,
ficaram acanhados como menino em primeiro dia de aula!
Oh! Mas como preciso de sol!
E como gostei de aprender,
a ler, escrever e contar.
Uma luz no horizonte.
Um sopro de inspiração.
O Sol...presente de Deus.
O Saber...vontade de mim!