OS ESCRIBAS

Letras que se confundem em histórias de instantes que passam a correr pelas vidas passadas e futuras, reais e imaginárias, ditas e escritas pelas mãos que imprimem em cada tecla, a vontade, o desejo, a emoção e o interminável percurso labiríntico de quem escreve por prazer.

29 novembro 2008


Quando estou enfastiada

de queixas,

suspiros

e olhos em alvo.

Fujo

e fujo mesmo.

Procuro o meu computador!



Não ouço o bater apressado de um coração.

Não observo braços pendurados ao longo do corpo,

como pêndulos de relógio sem corda.

Nem lágrimas disfarçadas por incómodo do rimel,

ou cisco que atrapalha no olho.



Não

O computador não sente,

não conta comigo

e principalmente obedece às minhas ordens!



Fico muito mais aliviada de pesos.

Mas reconheço que me assemelho a uma tecla,

que se limita a obedecer a um dedo!



Bem...

foi para isso que Deus me pôs no mundo!?...



Deixa-te de fantasias líricas…

Apetece-me usar o computador, e fazer dele um barquinho de papel, deixá-lo navegar pelas sarjetas, na esperança que outra mão o receba como uma espécie de azul……. onde cheguei por acaso.
Apanhar o jornal que escorregou ….. ordená-lo por página, entregá-lo
direito, a quem lhe custa apanhá-lo do chão.
Dar uma gargalhada, e confundir-me com um grupo bem disposto.
Tornar invisível a lágrima presente que escorrega pela cara abaixo de quem está a sofrer.
Isto hoje é o que eu quero que seja o meu computador. Deixa-te de fantasias líricas…
Vamos levantar os braços acima da cabeça, antes de partir, a caminho de novas aventuras.


25 novembro 2008

“UMA PEDRA É UMA PEDRA”

Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Alberto Caeiro


I
“UMA PEDRA É UMA PEDRA”

Uma pedra é uma pedra, insensível,
Mas Deus quando a criou foi com carinho,
A pensar que, na beira dum caminho
Serviria de banco, acessível

Ao caminhante jovem ou velhinho,
Para ter um descanso aprazível,
Na viagem com fim imperceptível…
Cada rochedo é um monstro, ou monstrinho,

Espalhados na serra em profusão:
São manchas de beleza, entre a verdura,
Que Deus pusera li, na intenção

De dar matiz ao verde que satura
Quando acumulado em grande extensão…
Assim, a vida, é alegre ou de amargura…

II
“E UMA FLOR É UMA FLOR”

Deus criou tantas coisas, bem singelas!...
Como as pedras que o homem utiliza
Para casas e mais fins, que idealiza…
Também criou mimosas amarelas,

Parecendo que é o sol que desliza
Pelas margens de estradas. Vemos nelas
O luzir de milhões, milhões de velas.
O que é mais simples…mais sensibiliza:

A violeta humilde, recatada,
Sugere o pensamento mais profundo
A quem a entende… pois fala calada…

Faz-nos pensar no ente moribundo,
Vestida, assim, de cor arroxeada…
Alegrias…tristezas…deste mundo…

III
“E OS RIOS SÃO APENAS RIOS”

Um mundo que não tem monotonia
Porque nele há de tudo, variado…
Desde as pedras, ao rio consagrado,
Para ceder, ao Homem, alegria.

Um rio não tem alma, está provado;
Nem as flores a rir na pradaria;
Destes nadas colhemos regalia
Que Deus nos quis deixar como legado.

Foi a Adão que Deus tudo ofereceu;
Adão a mais perfeita criatura!
Mas lá no Paraíso estremeceu,

De espanto, de emoção, e de ventura,
Ao ver que tudo aquilo era seu!
E mais a Eva, toda formosura!

IV
Adão a desfrutar o Paraíso
Com Eva, sua bela companheira.
Olhando tudo ao longe e à sua beira…
Os seus lábios expressam um sorriso:

A sensibilidade verdadeira
De quem tem Alma e sente que é preciso
Expressar sentimentos, sem aviso,
Basta sorrir…E foi a vez primeira

Que um ser da criação sorriu feliz!...
Porque Adão era mesmo um ser Humano,
Mas era ainda, em tudo, um aprendiz

A distinguir virtudes do profano…
Mais nenhum outro ser sente a motriz
Que leva a amar; sofrer; sentir-se ufano!...

analosver

o livro que estou a ler



Tenho entre mãos,

o livro de Nuno Lobo Antunes,

com o título " Sinto muito".

Todos os dias leio um ou dois capítulos,

e mais não leio,

pois sinto a necessidade de uma pausa,

para engolir as lágrimas,

respirar fundo

e saborear todo o carinho com que a dor é partilhada

entre o médico e os familiares daquelas crianças,

cujo clínico passa a sensação de as tratar ao colo...

A certa altura lê-se esta frase:

" A vida é tempo entre parênteses "

Encostei-me mais entregue no meu sofá,

fechei os olhos

e enchi-me do conteúdo desta expressão.

O primeiro parêntese assinala o momento da concepção,

o segundo o parar do coração...

Sinto que a vida que se intercala entre estes dois sinais,

é tanto mais bela,

quanto maior for a intensidade desse viver.

Na alegria e na dor.

E sempre sustentada pelo amor!

24 novembro 2008

a Gripe e os homens


Poema de António Lobo Antunes

Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisanas e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer.

21 novembro 2008

LIÇÃO DE VIDA

Aceitar é colher
Com ocoração aberto,
Saber dar e receber
Estar atento,estar desperto,

Só colhe com amor
Quem tem deus por companhia,
Dá alegria,dá cor,
Transforma o tempo do seu dia

Mente aberta é preciso
Paraver com coração,
Abrir os braços,receber
Cada um como um irmão.

Saber aceitar é um dom
Que recebemos ao nascer,
cuidar dele é a razão
De uma vida a crescer.

M.Rubalinho

20 novembro 2008

não é mais um heterónimo...


Não é Fernando Pessoa...
mas para mim é a "pessoa",
que muito me influenciou
no gosto pela literatura
e na forma de ver o mundo.
Esta fotografia foi tirada na rua dos Clérigos,
teria eu talvez os meus 7 anos,
e como era seu costume,
meu pai levava-nos á minha irmã mais nova e a mim,
a passear pela cidade do Porto.
Era um programa que nos agradava muito
e lá íamos os três.
Meu pai com o seu inseparável chapéu, de uso obrigatório,
e nós as duas de laçarote na cabelo e golinhas engomadas no pescoço.
Eu espevitada, sempre na frente, saltando num e noutro pé saboreava o passeio.
Além de descermos á Avenida dos Aliados para dar milho ás pombas que nos rodeavam e até nos assustavam, íamos ao Palácio de Cristal onde se alugavam uns triciclos e pedalávamos naquela sempre acolhedora Avenida das Tílias.
Visitávamos museus e outros locais de interesse, e como o meu pai se dedicava a descobrir o Porto e toda a sua história, não havia recanto algum na Cidade, onde não parasse, porque aí, em tempos idos, pairava uma lenda ou um acontecimento fidedigno que nos contava - a jeito de duas crianças entenderem e fixarem - e que ele divulgava em publicações que ainda hoje existem e são consultadas.
Como achei graça a esta fotografia e nela encontrei alguma semelhança entre a figura fisica de meu pai e Fernando Pessoa, com este gesto matei uma saudade!

14 novembro 2008

A Cidade do Açúcar

Museu "A Cidade do Açúcar" ,do Funchal,reabriu ao público após alguns meses de encerramento devido a trabalho de reorganização.O Museu Lançou,entretanto,um desdobrável-roteiro de exposição e para as visitas guiadas à Cidade do Açúcar,em português e inglês,recuperando texto de Francis Clode,Clara da Silva,Alberto Vieira,e outros..
O Museu pretende ser um espaço de apresentação das relações e consequências económicas e culturais decorridas entre os séculos XVI e XVII na ilha da Madeira,e testemunhar essa realidade através de diversos elementos arqueológicos,cronológicos e de paneis informativos,com referências ao enquadramento do Funchal e da Madeira no contexto da expansão portuguesa.

10 novembro 2008

Meu Pai Em Mim




Sei agora melhor o alheamento
aquela paz, que tão bem lhe ia,
Sereno,
em qualquer acontecimento,
para Ele,
apenas TUDO SE REPETIA



Brincava,
com o seu próprio esquecimento,
olhava à volta,
para ver se alguém dizia,
a palavra
que lhe faltava no momento…
Pudesse eu hoje, responder-lhe
ao que ele queria.

E agora se me dói o pensamento
porque muito quero,
e o verso não me sai,
oiço uma voz que vem de dentro…

Não há formas, nem talentos,
Para descrever um Pai

09 novembro 2008

O Outono nas nossas vidas


" Porque não terá também o seu Outono a vida? As flores umas caem, outras secam, outras murcham, outras leva-as o vento, aquelas poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto, só essas são as venturosas só essas são as discretas, só essas são as que sustentam o mundo. Será bem que o mundo morra à fome? Será bem que os últimos dias se passem sem flores?"
Assim diz o Padre António Vieira no seu sermão da "Sexagésima" pregado lá bem longe nas terras do Maranhão, há tantos e tantos anos e no entanto tão actual. Os valores da alma e da vida perduram. O Homem continua igual a si mesmo nesta curta passagem.
A nossa vida também tem um Outono. Passámos a Primavera, onde tudo floriu, onde o amor desabrochou, atravessámos o Verão e nele colhemos os frutos e chegámos ao Outono fazendo o balanço do que semeámos e do que colhemos. Se soubemos viver, se soubemos criar fortes e saudaveis raízes, aí vamos entrar alegremente no Outono da Vida.
Muitas vezes o percursso é tortuoso, ervas daninhas tentam impedir o crescimento, parasitas tentam sugar a seiva, aves de rapina querem colher o fruto ainda verde, mas há que ter força interior para vencer as adversidades e continuar vertical, esperando a beleza, a calmia de um outono em que haja sempre uma bela flor, em que haja a alegria de viver, de participar num mundo que queremos aprazível, sentindo que somos dele parte integrante.
Viver requer sabedoria, dignidade, respeito pelos outros e honestidade para consseguirmos conquistar a "Liberdade" - liberdade de sermos comandantes de nós próprios, sem sermos humilhados e subjugados tal como os povos que o Padre António Vieira defendia há séculos nas longínquas terras de Santa Cruz.

06 novembro 2008

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05 novembro 2008

A rede lançada ao mar

"O reino dos Céus é ainda semelhante a uma rede que,lançada ao mar, apanha toda a toda a espécie de peixe.logo que ela se enche, os pescadores puxam-na para a praia...

O meu ninho


Tchiu...não façam barulho,
deixem-me gozar este silêncio,
que é meu.
Aninhei-me no canto que reservo,
para escutar meus silêncios.
A companhia que eles me fazem!
Como me induzem a abrir meu discernimento,
a ver tudo claro,
a ganhar coragem!
Este ninho de onde já voaram meus passarinhos,
é o meu refúgio
e o meu porto de abrigo.
Não houve tempestade que o desfizesse.
Será apenas o tempo que corre,
tão depressa,
sem o contar,
que "naturalmente" o destrói...

«A escultura já lá está,

eu só tiro o que sobra»

Miguei Angelo

03 novembro 2008


Chegou o inverno não vale protestar.

Endireita-te, e tira partido.
Não me vou deixar adormecer, como a relva do jardim, que nem cresce.
Vou manter os meus ramos, como as árvores que não deixam cair a folha.
Não me sinto mal, apenas me apetece esquecer o sol, embrulhar-me em manta quentinha, copiar os olhos indiferentes do meu gato, descobrir um postigo e espreitar, como em criança, o outro lado das coisas, chamar aflita
por não sei quem, de espanador na mão… eliminar o inverno? ….
Vou pensar.

02 novembro 2008


"A Vida é feita de mudanças"

Hoje foi diferente de ontem

e o amanhã não é previsível.

A idade que se vai acrescentando

e deixa carimbo,

faz-nos um convite.

Não vivas só de recordações

nem arrisques agora grandes projectos.

Analisa o que aprendeste

em dias lindos como malmequeres

e outros duros como crivos de ferro.

Com eles te tornaste no que és hoje.

Uma mulher de bem com a Vida.


Vamos aproveitar o nosso blog e dar-lhe um novo aspecto?

um blog que fosse um diário,

escrito a canivete.

escrever, é ir fundo, nada à flor da pele.

tem de se aprender a voar, a fundir uma lâmpada, avançar em pés de lã,

ou aos empurrões, de tormento em tormento

saber despedir-se sem palmas. Dar saltos no escuro, perder-se dentro de si,

como gaivotas no nevoeiro. indiferentes aos cochiços, risinhos e pastilhas elásticas de balão.

Moro numa zona sem comércio, mas do que preciso não se compra.

Serei sempre como o menino que ia ao ringue de patinagem ao domingo na esperança

de se ver girar à roda à roda, à roda para se sentir feliz. Às vezes é um bocadinho triste bater

palmas para um ringue vazio. Vamos ser mais?......................