OS ESCRIBAS

Letras que se confundem em histórias de instantes que passam a correr pelas vidas passadas e futuras, reais e imaginárias, ditas e escritas pelas mãos que imprimem em cada tecla, a vontade, o desejo, a emoção e o interminável percurso labiríntico de quem escreve por prazer.

14 junho 2010


As sandálias eram novas a estrear.
Azul forte.
Em linho.
Uma fivela no calcanhar.
Reparei, que enquanto estávamos sentadas no banco de madeira,
várias vezes a vi estender as pernas
e, fixá-las, virando os pés meio de lado, devagarinho!
Onde estávamos não convinha falar,
tinhamos que estar com atenção ao que se estava a passar.
Terminada a cerinónia,
como sempre, fiquei a conversar com a minha amiga Joana.
E perguntei-lhe:-Lembraste, Joana, há vários anos desenhaste a mãe desta neta!
Acto contínuo, a minha amiga, tirou da carteira, um maço de lenços de papel,
pegou numa esferográfica
e aproveitando o gesto,
de quem se tinha baixado,
pousado o joelho em terra, para apertar mais a fivela, (julgo eu!)
fez uns rabiscos, para ver se não esquecia a expressão...
Ao fim do dia mandou-me o desenho!
e ... eu não consegui deixar de escrever isto!
Uma desenha como quem respira naturalmente.
A outra escreve como quem não consegue estar calada!

12 junho 2010

Adolescente

(Joana Motta)
Como eu gostaria
que olhasses para mim...
Não viste sequer o meu chapéu novo!
Mas sabes, comprei-o a pensar em ti!?
Sonhei que podíamos ir por aí,
atravessar os campos até ao riacho,
apanhar flores,
seguir as borboletas que voam contentes,
ouvir-te contar aquelas histórias,
em que és sempre herói.
Não sei se acredito em tudo que ouço,
mas teus gestos amplos,
tua voz feliz,
teus olhos negros cor de azeviche,
o teu ombro que roça no meu,
enche-me de sol!
Tolo...que não sabes o que eu gosto de ti...

03 junho 2010


(Joana Motta)

Quase tempo de praia.
Voltei costas ao sol,
pois meus olhos ainda húmidos de tantos dias de chuva,
ficaram acanhados como menino em primeiro dia de aula!
Oh! Mas como preciso de sol!
E como gostei de aprender,
a ler, escrever e contar.
Uma luz no horizonte.
Um sopro de inspiração.
O Sol...presente de Deus.
O Saber...vontade de mim!



quando vi o teu desenho

um silêncio inexplicável

foi pouco a pouco

tomando conta de mim.

Sabes como quem inspira uma aragem fresca.

Recolhi,

mansa,

melódica

sem vontade de nada mais

senão semi-cerrar meus olhos

dissecar o que se passava

bem cá dentro

oculto

como um segredo.

Essa paz que encontrei

que o teu desenho me pegou

assemelhou-se

talvez

ao ocaso de uma vida que se viveu.